Eu quero ser gay!
Por Moa Sipriano
As irmãs gêmeas Intolerância e Ignorância ainda acompanham nossos passos em pleno século vinte e um. É chocante ler uma matéria em uma revista de circulação nacional e ver que
um juiz afirma que “futebol não é jogo para homossexual...”. É perturbador ler num grande portal da Internet, que o presidente do Irã afirma que “em seu país não há homossexuais...”
   É constrangedor ir jantar na casa de um amigo e ouvir, na hora da suculenta sobremesa, o pai dizer na tua cara: “Se meu filho fosse bandido, eu educaria. Se ele fosse um maconheiro, eu
trataria. Mas se ele fosse viado, eu mandava matar!”.    Um detalhe pitoresco: o tal “pai” sabe que tanto eu, quanto seu filho único, somos homossexais. O meu amigo acha que é enrustido. Eu, claro, assumido.
   Chega ser hilariante quando você está num local público repleto de pessoas conhecidas e uma “mina” te vê e dispara para a amiga: “Pois é Carlinha, esse careca-morenaço-peludão- gostosão gosta de homem. Que desperdício!”... E todo mundo cai na risada, inclusive você ilumina o ambiente com seu sorriso mais amarelo.
   Há trocentas maneiras de ilustrar as situações a que estamos submetidos perante a Sociedade. Mas temos que dar graças ao Fofuxo lá de cima por vivermos em um país onde, ao menos, temos liberdade para exprimir aquilo que somos, sentimos, pensamos. Sim, você pode ainda fazer parte dos milhões de enrustidos que teimam em não se aceitar viver plenamente aquilo que se é ou se optou ser. Mas se você é assumido, isto é, se você vive sua sexualidade como dever ser vivida, não permita que pessoas ignorantes, sem informação adequada, minem o seu direito de ser e agir livremente, em todos os sentidos.
   Proteste quando um juiz homofóbico proferir palavras em público condenando os homossexuais. Lute para que seu irmão que vive num país opressor possa encontrar um meio de se
expressar e, quem sabe, encontrar a oportunidade de viver livre e plenamente seus sentimentos mais profundos.
   Reaja, com paciência e muito, muito, muito diálogo, diante de um pai bronco que condena o próprio filho, intimando-o a permanecer no “enrustimento” involuntário.
   Parece ridículo termos que ainda lutar por uma coisa que é natural, que faz parte do ser humano, da sociedade, da divindade, etc.
Ser gay não é ser doente. Infelizmente muitos gays ainda vivem como se fossem não só doentes, mas insistem em celebrar uma marginalidade terrível que em nada tem a ver com a
plenitude e a alegria de ser o que se é.  Ser gay não é ser uma aberração. Mas se a tua praia é se produzir toda, sair na Parada, ferver feito uma lôca e caçar bofes alucinadamente à luz do dia no meio da festa... bem... que direito você tem de exigir respeito alheio?
   E antes que você me atire a primeira pedra, não sou contra esse tipo de manifestação, mas acredito que muitos somente participam desses eventos pela importância da “festa” e não por causas mais nobres para uma melhor visibilidade e aceitação.
   Ser gay é realmente sair do armário. Ser assumido para si mesmo, em primeiro lugar, é o primeiro passo para se tornar indiferente aos ataques sem sentido “dos outros”.
   Ser gay é ter coragem de expor o que muitas vezes é o óbvio. Respire fundo, chame sua santa mãezinha num canto confortável da casa, e a sós, olhe bem dentro do olhar dela e diga,
de uma só vez, o que somente você pode dizer.   Esse papo de que a velha vai se matar, vai espernear, vai gritar pra Jesuis e dizer aos céus:
“O que foi que eu fiz de errado!”, bem, isso é besteira. A reação costuma ser bem diferente do que se prega por ai. Aprenda que: QUEM AMA, COMPREENDE!
   Ser gay é muito bom. Ser feliz consigo mesmo é algo que te supre de energias positivas pro resto da tua existência. Não perca mais tempo em ficar se escondendo pelos cantos, fingindo ser aquilo que os outros querem que você seja. Acredite: viver assim é pior do que se assumir.
   Ser gay não tem nada de anormal. Você vai continuar sendo a pessoa que você é: amado pela sua mãe, compreendido pelo seu pai, aceito pelos seus irmãos e querido junto aos seus
amigos (é nessa hora que você vê quem realmente é seu amigo verdadeiro!)
   Então, meu caro, se você gosta de homem, se você quer viver um dia com um homem, se você acredita no amor ao lado de um homem... em primeiro lugar seja Homem!
   E a única coisa que não importa pra ninguém, somente pra você e para o seu parceiro,companheiro, amante, ficante, seja lá o que for, é: ativo ou passivo, seja homem para viver por
completo aquilo que você é ou escolheu ser.
Eu quero ser gay, simplesmente porque EU SOU GAY! E isso não me diferencia de você, nem dele, nem de ninguém.